Ana Euler é engenheira florestal, com mestrado e doutorado em Ciências Ambientais e Florestais pela Graduate School of Environment and Information Science – Yokohama National University, Japão. Ingressou na Embrapa em 2008, por concurso público, lotada na Unidade Embrapa Amapá. Hoje, Ana Euler exerce o cargo de diretora de Negócios da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. A diretora concedeu entrevista ao Conexão Mundo Agro e revela estratégias inovadoras da pesquisa agropecuária brasileira.
Conexão Mundo Agro – Que transição a produção agropecuária brasileira precisa experimentar para seguir evoluindo?
Ana Euler – O mundo vive um momento de transições; acho que a primeira transição que a gente tem que falar é a transição climática. Mas não é só ela. A transição climática nos traz outros movimentos. De uma transição alimentar, de um consumidor final cada vez mais preocupado com a origem do seu produto. A transição digital. Quer dizer, um dos caminhos para a sustentabilidade da agricultura é uma agricultura de precisão, uma agricultura mais eficiente, com menos penosidade pro nosso produtor, com ganho de eficiência e produtividade. Nós temos uma transição energética, precisamos de uma agricultura que seja cada vez menos não só dependente de energia, que busque as energias renováveis, mas que tenha uma menor emissão de carbono. E aí nesse sentido, a Embrapa tem trabalhado várias inovações, na área dos bioinsumos. Para substituir principalmente os insumos químicos, agroquímicos e fertilizantes. A gente tem trabalhado muito essa agenda da transição digital, que agente entende que ela é fundamental para uma transição geracional. Os novos agricultores e agricultoras, eles buscam novos desafios na agricultura. E é possível fazer isso. Então, temos trabalhado muito fortemente distritos agrodigitais, os hubs tecnológicos. Então, parcerias entre EMBRAPA, startups do agro, hoje são duas mil startups do agro que existem e é um mercado que vem florescendo, que traz muito a juventude com um novo olhar dessa agricultura quatro ponto zero. E por que não dizer cinco ponto zero?
Conexão Mundo Agro – A Embrapa tem estratégias para avançar nesse campo?
Ana Euler – Hoje eu diria que uma das pesquisas mais disruptivas da Embrapa é agricultura espacial. Então estamos trabalhando junto com a NASA realmente como adaptar cultivares, inicialmente de grão de bico e batata doce, para sistemas de produção fora da nossa atmosfera. No ambiente lunar. E por que que isso é importante? E por isso é importante se a gente tem um planeta inteiro pra se explorar. Porque boa parte das tecnologias que a gente desenvolve nesse ambiente disruptivo que é o ambiente espacial nos trazem ganhos tecnológicos para a nossa realidade no planeta Terra.
Conexão Mundo Agro – Pensar nisso, parece que é algo muito utópico, muito distante ainda. O que de concreto a gente já tem em relação a essas pesquisas, e essa parceria com a NASA como a senhora mencionou, algo tão inovador, principalmente pra nossa realidade aqui?
Ana Euler – Então, o que a gente tem de concreto, é o que o setor agropecuário vem implementando ao longo dos anos? Por exemplo, uma revolução na agricultura aconteceu na década de noventa, com uma mulher cientista que foi inclusive candidata ao Nobel, que é a Johanna Dobereiner, que descobriu com a sua equipe de que pesquisa a possibilidade de fixação biológica de nitrogênio. Hoje noventa por cento da produção de soja no Brasil, que é o maior exportador e produtor de soja do mundo, usa fixação biológica de nitrogênio. Com ganhos financeiros anuais na ordem dos bilhões de dólares e com ganhos ambientais imensos, porque a partir do momento em que você deixa de usar o adubo nitrogenado e promove a fixação biológica de nitrogênio, através de bactérias que se associam as raízes das plantas, você tem um ganho de eficiência, um ganho econômico e um ganho ambiental. Então isso é algo de concreto que já acontece no Brasil desde a década de noventa, só que vai ganhando escala e hoje eu posso dizer que é uma realidade e é um diferencial da agricultura brasileira. Um outro ponto, que eu acho extremamente importante de trazer pra vocês, são os sistemas integrados de produção. Então, hoje se pensa numa agricultura de processos e não numa agricultura de produtos.
Conexão Mundo Agro – E o Brasil oferece condições diferenciais para desenvolver modelos sustentáveis?
Ana Euler – A região tropical e o Brasil talvez tenham um diferencial único, que além de nós termos muita terra, além de nós termos um regime hídrico favorável, isso faz com que em muitos lugares no Brasil a gente possa ter até três safras por ano. Então e por que são importantes esses temas integrados? Que você pode produzir numa mesma área grãos, frutíferas, carne e leite. Então por que que isso é possível? Isso é possível porque você vai usar espécies de forrageira que tem tecnologia EMBRAPA, enfim, tem tecnologia brasileira, bio insumos que também são tecnologia nacional, tecnologia EMBRAPA, tecnologia brasileira, genética animal e genética florestal que são tecnologias.
Conexão Mundo Agro – E o papel da Agricultura de Baixo Carbono no agro nacional?
Ana Euler – Hoje a principal aposta do Ministério da Agricultura, através do Plano Safra que foi recentemente lançado, é o programa ABC mais. No programa ABC mais tem uma série de linhas de créditos a juros bastante justos, inclusive menores do que foram no ano passado. E tudo voltado para para essa transição ecológica da agricultura. E uma das principais apostas é a integração lavoura, pecuária, floresta.