O algodão produzido no Brasil é o mais sustentável do mundo.
Alexandre Pedro Schenkel é produtor rural no município de Campo Verde, em Mato Grosso. Dirigiu o Sindicato Rural no municipio foi eleito para presidir a Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão) no biênio 2023-2024. Sucedeu Júlio Cézar Busato.
Entre os desafios, o presidente destaca a ampliação dos programas de rastreabilidade, sustentabilidade e a implantação da certificação oficial do algodão, iniciada em projeto-piloto em 2022, pelo Ministério da Agricultura. Para Alexandre Schenkel, o programa SouABR está pavimentando o caminho para uma indústria têxtil mais ética, transparente e responsável no Brasil, demonstrando que a moda e o consumo conscientes podem andar de mãos dadas.
Conexão Mundoagro– Como avalia o momento para a lavoura do algodão ou para a cadeia produtiva do algodão no Brasil?
ALEXANDRE: Após a pandemia, que foi um período que impactou muito, principalmente devido as logísticas de encaminhar alguns produtos e a economia girar no mundo, hoje nós estamos colhendo alguns frutos e registrando ânimo na economia mundial. Desde agosto do ano passado temos observado uma demanda maior pelo algodão, principalmente o produzido no Brasil. Estamos agora aproveitando essa demanda para escoar a produção. Basta agora a gente aproveitar e fazer o nosso dever de casa, produzir com qualidade e atender esse mercado internacional. Principalmente o mercado asiático, que consome 95% do que é exportado pelo Brasil.
Conexão Mundoagro – E o desempenho da lavoura algodoeira no país?
ALEXANDRE: Nós somos jovens nessa questão de produzir algodão dessa maneira mais moderna, onde a gente consegue trazer mais produtividade. É um plantio no centro-oeste, no cerrado, que a gente conseguiu trazer maior eficiência. Então, nesses trinta anos pra cá que nós viemos plantando nessas regiões a qualidade foi uma grande preocupação. Nós começamos a produzir com uma certa quantidade, mas nós não tínhamos qualidade. Nós trabalhamos muito com as empresas de melhoramento genético em busca de sementes, de variedades que tenham a qualidade de fibra, que é o que importa pra indústria. Nós já somos referência mundial, nós estamos com a qualidade tão boa quanto a dos americanos na questão de comprimento, de resistência, na qualidade da fibra do algodão. Isso é muito importante, pois estamos entregando aos nossos clientes, pro mercado mundial, e principalmente, também pro nosso mercado doméstico, que é bastante exigente. Lembre-se que a indústria nacional consome 100% do algodão brasileiro. Isso aí é o melhor referência que nós temos.
Conexão Mundoagro – O algodão chegou pra valer no cerrado?
ALEXANDRE: Com certeza! Há 30 anos já estamos fazendo essa pesquisa, desenvolvendo graças aos produtores. Nós temos essa eficiência. Temos solo bom e clima adequado à produção. Nós conseguimos produzir dentro do cerrado graças as pessoas, ao nosso solo e ao nosso clima.
Conexão Mundoagro – O algodão no Brasil chegou a ser quase dizimado na década de 1980 com a praga do bicudo. Esse é um problema definitivamente superado? como os produtores estão administrando o manejo de pragas, principalmente considerando hoje o foco da preocupação ambiental?
ALEXANDRE: Bom, a praga do bicudo não está superada. A gente tá conseguindo conviver com a praga. Diferente de outros países que fizeram a erradicação do bicudo, através de pulverizações e coisas que a gente não optou por aqui. Nós estamos convivendo com a praga, mas estamos fazendo boas práticas pra poder conviver com ela. Nós temos que fazer o manejo correto, respeitar os vazios sanitários, que tem cada estado, e isso pra nós aqui é importante a gente poder fazer o bom manejo, é um trabalho coletivo. O Better Cotton é uma certificação internacional e garante que o produtor segue à risca tanto as normativas ambientais, como sociais do nosso país. Então, somos o algodão mais sustentável do mundo.
Conexão Mundoagro – O senhor conheceu o sul do Piauí, o cerrado piauiense, onde a lavoura algodoeira começa a ganhar espaço. A área plantada aumenta a cada ano. Qual a impressão que ficou dessa sua visita ao estado?
ALEXANDRE: Já tive aqui no estado no início dos anos 2000 e já tive uma boa impressão naquela época. Vi que tinha muitas oportunidades. E agora, retornando pra cá, a gente pode ver que o sistema de plantio aqui dos produtores do Piauí, o capricho que eles tem, o bom cuidado que eles tem com as áreas, com as terras. E aqui a gente tem um potencial enorme. Aqui é viável a produção de algodão e isso faz com que vocês vão aumentar cada vez mais a área plantada . O que importa é que nós vamos estar trazendo junto com essa expansão mais tecnologia, elas vão trazendo mais, agregando mão de obra, agregando mais economia pro estado. Isso aí é muito importante. Aumento da produção com segurança e fazer também com que tenha uma atenção com a infraestrutura pra que se traga todos esses benefícios que o algodão traz aí pra região.
Conexão Mundoagro – Qual o papel que o governo pode exercer como parceiro da lavoura algodoeira pra alavancar a atividade no país com base até nas ações dos estados?
ALEXANDRE: Vários estados já estão fazendo, estão apoiando a cotonicultura aqui no país. Isso é importante, principalmente a logística, manter uma estrutura pra que a gente consiga trazer mais insumos para produzir algodão; assim como levar esse algodão para os portos. Como eu disse, esse último ano foi um caos na logística. A princípio por causa de um porto, mas nós estamos vendo outras opções também de exportação, de estar transportando esse algodão, seja pra nossos consumidores aqui de dentro do país, como também para exportações. Então, é importante nós termos atenção dos governos com a questão de logística, a questão também das regras sanitárias, também das questões econômicas. Se puder trazer indústrias pra dentro do estado, isso é muito importante. Apoiar a industrialização local.
Conexão Mundoagro – O senhor já dirigiu uma entidade estadual em Mato Grosso, hoje comanda a ABRAPA e conhece aqui a organização dos produtores em âmbito estadual através da APIPA. Qual sua impressão sobre entidades estaduais o que o senhor achou aqui da estrutura da APIPA no apoio a lavoura algodoeira do estado?
ALEXANDRE: A APIPA (Associação Piauiense dos Produtores de Algodão) é muito otimista. A gente tem pessoas que são dedicadas na produção do algodão, são muito responsáveis, porque elas procuram também resolver as questões sanitárias. Nós não podemos deixar perder essa guerra contra o bicudo, que hoje é o que daria mais prejuízo pro produtor.
Então, todo esse trabalho que é feito em ter os cuidados com o manejo da lavoura, combate ao bicudo, também tem a promoção da cotonicultura aqui através de dias de campo, através de tours de algodão aí pra motivar que o bom produtor, aquele produtor caprichoso plante algodão, aumente sua área aqui no estado. Isso é um trabalho que a APIPA faz frequentemente. Ela é referência aí no que é quesito de ser entusiasta do algodão. Assim como eu, assim como seu Hamilton (Bortolozzo, presidente da Apipa), nós somos entusiasta no algodão. Parece que a gente tem algodão na veia quando eles falam isso aí. O trabalho que a APIPA faz aqui é exemplar.